Em Março de 1982, capitaneada pelo gênio Luiz Antonio Mello, iniciava a transmissão em 94,9 FM, da Fluminense, a “Maldita”, na voz de Selma Boiron, numa inovadora ideia de se empregar a locução feminina, transbordando, isso mesmo, Rock! E lá estávamos nós naquele momento, de boca em boca, passando adiante e repercutindo a informação de que uma rádio de Niterói, estava com uma programação, vejam só... somente de Rock, com uma, depois duas, e depois 3... locutoras, pois Monika Venerabile e logo a frente, Mylena Ciribelli, junto com Boiron, formaram o trio de ouro do dial, tendo, para fazer jus, também a companhia de Edna Mayo, Liliane Yusim, Cristina Carvalho e Selma Vieira.
Em
pouco tempo a “Maldita” alcançou a 3º audiência no FM, emplacando programas que
receberam merecido respeito da crítica e formadores de opinião, vide, por
exemplo, o empenho em transmitir eventos do circuito internacional do surf com
reportagem in loco, ou mesmo, de ter um horário de altíssimo nível dedicado ao
jazz, “O assunto é jazz”, com Luiz Carlos Antunes, Terça a noite. Rapidamente a
“cara” da programação ia ganhando uma forma nítida para nós, já que era evidente
o caráter alternativo da rádio, onde a proposta era ocupar um espaço que estava
vazio e carente, com músicalidade tendo como base o Rock, mas também o
instrumental e até o jazz. “A hora do rush” e “Guitarras para o povo” se
tornaram programas icônicos e traziam nas vinhetas rifes de bandas e artistas, que logo identificaríamos
e fariam parte das nossas conversas ao citarmos os sons que recheavam as chamadas desses programas. Lloyd Cole, Jean-Luc Ponty, Prince, Rush... eram “figurinhas
carimbadas” das vinhetas.
O
Rock nacional de então, tema que merecerá posts meus específicos, e todo o “boom”
do gênero que dominou a década de 80 (e que por mim estaria até hoje com grande
prestígio) não teria apresentado a robustez na influência musical da ocasião se
não fosse a “Maldita”, pois a divulgação num canal quase que exclusivo para que
todos tivessem um palco onde pudessem apresentar desde uma fita demo a um
sucesso que se anunciava, foi motor propulsor para a avalanche sonora do Rock
Brasil. Discos inteiros tocavam na Flu e shows tinham a marca da rádio. É
notório a gratidão e o carinho de todos pela 94,9 FM, num reconhecimento
unânime à causa abraçada pela aquela estação que ficava na rua Visconde de
Itaboraí, em Nicty. Estúdio, por sinal, que tive a honra de ir várias vezes,
incluindo o dia em que fui pegar “meu prêmio”
- me concedam a gentileza de eu citar isso - (rs), a saber, 2 ingressos
para o show “Paul in Rio” em 1990 de Paul McCartney no Maracanã, devido a eu
ter gabaritado um quiz realizado ao
vivo, “no ar”, com perguntas “espinhosas” sobre os Beatles. A
Flu constantemente promovia algo e transformava um acontecimento em motivo de alegria seja qual fosse o fato em que ela estivesse relacionada.
O fim da “Maldita” nos deixou órfãos. Não se tratava de uma rádio que tocava privilegiadamente Rock. Era mais do que isso. Era a rádio Rock. Um espaço de pleno bom gosto. A famosa sequência de 3 músicas, era recebida por nós com a certeza de que haveria a reprodução de ótimos sons, bem como, a expectativa de algum lançamento, de alguma novidade, nacional ou lá de fora, cuja oportunidade de audição só se verificava mesmo na Flu. Mais do que uma saudade, o fato é que o término da Flu FM abriu uma verdadeira lacuna escancarada até hoje quando queremos ouvir e saborear nosso Rock”n Roll e afins, ou mesmo quando nos esforçamos para descobrir se há alguma música nascendo de nossos artistas preferidos, não esquecendo, logicamente, que estamos frequentemente procurando por um porto seguro que toque as canções icônicas que nunca deixaremos de ouvir pela “enésima” vez.
.jpeg)





